Resumo
O episódio que se convencionou chamar “a Ilha dos Amores” é um dos que ocupam maior espaço em Os Lusíadas, de Luís de Camões, trazendo questões acerca do amor, do heroísmo e da recompensa utópica. A face luminosa dessa ilha, arquétipo do paraíso, deixa entrever, por outro lado, o desânimo do autor quanto à própria realidade em que viveu: o Portugal em crise após o apogeu dos “descobrimentos”. Se, com frequência, a paisagem vívida e simbólica criada por Camões continua sendo lembrada por sua sensualidade alegre, é o viés obscuro que ressurge, no século XXI, em obras como Uma viagem à Índia, poema narrativo de Gonçalo M. Tavares, e Essa dama bate bué!, romance de Yara Nakahanda Monteiro. Ambas, em inúmeros diálogos com a epopeia portuguesa, trazem releituras da Ilha de Vênus, como discutiremos aqui.
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